quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

OP em Suzano: prazer em conhecer

Terminadas as festas de final de ano, o Orçamento Participativo inicia seus trabalhos em Suzano com o planejamento da 3ª rodada. Isso significa muito trabalho pela frente! Mas é um trabalho que dá prazer.

No ‘Conexão Roberto D’Ávilla’ da TVE Rede Brasil, o sociólogo napolitano Domenico De Masi, discutia concepções de trabalho. Aproveitando sua vinda ao Brasil, De Masi esteve em uma reunião de trabalho, mais precisamente um almoço, com Oscar Niemeyer. Provocativa essa reflexão sobre trabalho intelectual e processos criativos: trabalho e/ou lazer?

No vídeo “Chico e as cidades”, 1999, Chico Buarque fala sobre sua experiência criativa. Foi estudante de arquitetura na tentativa de ser Oscar Niemeyer. “Pior aluno da turma, larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar”, disse Chico. Trabalho para ele é compor, escrever. Cantar é mostrar no palco um trabalho que já foi feito. Já para o arquiteto Oscar Niemeyer, numa frase escrita por ele entre o esboço da catedral de Brasília, do congresso nacional, do museu de arte moderna de Niterói, “o mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos, e este mundo injusto que devemos modificar”.

No texto “Outro poder local”, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos diz: “o OP é uma forma de gestão partilhada dos municípios em que participam os munícipes. As decisões sobre os investimentos decorrem de processos estruturados de consulta e negociação alargada entre o governo e os munícipes. O OP consubstancia uma relação virtuosa entre a democracia representativa e a democracia participativa e visa tornar o governo mais transparente, socialmente mais justo e politicamente mais próximo dos cidadãos”. Originado em governos municipais brasileiros, o OP existe hoje em muitos municípios da América Latina e em mais de 100 municípios da Europa. Segundo Boaventura, o OP nos municípios portugueses são experiências tímidas, “são sementes de esperança para o aprofundamento da democracia”. Para ele, o OP aponta para superação das duas patologias que assolam os regimes democráticos atualmente: a patologia da representação e a patologia da participação. (‘não sentir-se representado pelo representante’ e ‘não participar por pensar que o voto não conta’).

Comparando as rodadas de 2006 e 2007, a participação popular nas plenárias deliberativas do em Suzano cresceu 55%. As decisões do OP 2007 representam cerca de ¼ do investimento público municipal. Cabe ao CORPO, conselho do OP composto por 24 conselheiras(os) eleitas(os) pela população e 8 indicados pelo governo, planejar a rodada de 2008. Discutir, atualizar e recriar é uma tarefa que faz do OP um processo rico e dinâmico, espelho da diversidade do povo de Suzano.

Somos artistas num processo criativo apaixonante. Nos conhecemos, pesquisamos, analisamos e avançamos na compreensão da nossa realidade. Nesse movimento, percebemo-nos agentes da transformação do “mundo injusto” dito por Niemeyer.



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