sábado, 23 de julho de 2016

Breve relato sobre a formação do povo de Suzano

O IBGE informa haver forte influência da migração da Região Nordeste do Brasil na composição da sua população suzanense atual. É perfeitamente possível sentir as culturas japonesa, negra e nordestina em Suzano: os restaurantes dedicados à culinária japonesa e as casas do Norte, os sotaques, os jornais escritos em idioma japonês dispostos nas bancas ou durante a leitura em locais públicos (chegamos a perceber tais publicações protegendo paredes durante a pintura, forrando chão, disponíveis nas grandes hortas urbanas), as histórias que ouvíamos nas andanças pela cidade, o contato direto com o povo e a observação dos costumes, os templos religiosos e terreiros, as escolas de samba e tantas outras marcas impressas na cultura e na paisagem urbana. Se a realidade confirma essa presença, os dados oficiais (pelo menos os que tivemos acesso nesta pesquisa) não lhes dão igual relevo.
Por conta dos festejos em homenagem ao centenário da migração japonesa no Brasil, a imprensa local divulgou em julho de 2015 a presença de aproximadamente dezesseis mil descendentes de japoneses em Suzano. Percebemos uma concentração dos japoneses na região do centro expandido e Sul da cidade, o que de alguma forma coincide com a atividade agrícola. Há empresas japonesas líderes em seus segmentos instaladas na cidade e os nomes próprios estão por toda parte. São clubes que mantêm as tradições japonesas como a tradicional Festa da Cerejeira que em 2015 realizou sua trigésima edição. A Academia Terazaki, conhecida como a primeira escola de judô na América, tem sua sede em Suzano. São três os templos religiosos com arquitetura oriental na cidade: Igreja Shingonshu Kongoji, Templo Budista Nambei Shigonshu Daigozan Jumyoji e Templo Honpa Hongwanji de Suzano. Certamente existem outros.
A intensidade das festas juninas e a grande Festa Nordestina em Suzano organizada pela Paróquia Santa Rita (na região Norte da cidade) e Prefeitura Municipal, com comidas típicas (tapioca, buchada de bode, baião de dois, bobó de camarão, sarapatel e caldo de mocotó), apresentações de música típica regional, demonstram o cultivo de tradições do Nordeste brasileiro na cidade. É muito comum observarmos nas feiras livres e nos cardápios dos restaurantes, dos mais sofisticados aos mais comuns, o encontro das gastronomias: yakissoba, tempurá, temaki, pastel, tapioca, caldos, espetinhos, massas dentre outros.
Feijoada é prato comum nas quartas e sábados nos restaurantes da cidade. O movimento negro atuante na cidade e região ganhou ainda mais expressão quando este setor, somando com outras forças políticas vinculadas às classes populares, acessou a Prefeitura pela porta da frente. Com o apoio da prefeitura, suas iniciativas ganharam relevo. As atividades em reverência à consciência negra, as Rodas de Todos os Santos, as caminhadas e cortejos pelas ruas da cidade com manifestações culturais e religiosas lhes deram mais visibilidade na cidade. O Pavilhão da Cultura Afro-brasileira Zumbi dos Palmares situado no interior do parque municipal Max Feffer apesar de recente, talvez seja uma das poucas marcas físicas, em termos de equipamentos públicos, na paisagem urbana que destacam a importância da comunidade negra na diversa composição étnica que Suzano abriga.
As palavras de origem indígenas marcam também alguns lugares da cidade, denominando equipamentos públicos, e fazendo referência à presença histórica do povo e da cultura indígena nesta região. Nos campos de Mirambawa, o antigo clube Mirambava, depois de incorporado ao patrimônio público municipal, foi transformado no Complexo Educacional Mirambava[1], a Represa Taiaçupeba e rio Taiaçupeba, a rodovia índio Tibiriça, o rio Tietê, o rio Una e etc. Um memorial foi construído no jardim Ikeda em homenagem aos índios enterrados naquela região, cujos indícios sugerem sepultamentos realizados entre 1906 e 1934[2]. As Conferências de Promoção da Igualdade Racial foram frequentes no período de 2005 a 2012, contando com a participação dos movimentos sociais e populares, e a presença dos representantes de grupos organizados em torno da preservação da memória indígena regional. Neste particular da composição da população suzanense é importante registrar a abundância de informações disponíveis sobre a presença da colônia japonesa; raras as informações organizadas e disponíveis sobre a presença nordestina; raríssimas sobre a presença negra e indígena bem como sua participação na construção histórica da cidade.

Fragmento da dissertação de mestrado de Ivan Rubens Dário Jr, intitulada "CORPO em movimento: marcas do Orçamento Participativo na cidade de Suzano/SP"



[1]Equipamento vinculado à Secretaria Municipal de Educação em 2008 como parte das ações voltadas à formação dos profissionais da rede municipal e atividades afins.
[2]Dados da Prefeitura de Suzano quando da construção do Memorial sobre o terreno em 2006.

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