quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

104º Bate Papo Cultural - "Corpo em movimento: uma pedagogia da cidade"



Apresentamos aqui algumas linhas de nossa pesquisa de pós-graduação em Educação a partir da experiência vivida em Suzano/SP entre 2005 e 2008 durante o governo Marcelo Candido com a política do Orçamento Participativo. A convite do Arquivo Público de Rio Claro/SP, tal apresentação compôs o 104 Bate Papo Cultural.

sábado, 23 de julho de 2016

Breve relato sobre a formação do povo de Suzano

O IBGE informa haver forte influência da migração da Região Nordeste do Brasil na composição da sua população suzanense atual. É perfeitamente possível sentir as culturas japonesa, negra e nordestina em Suzano: os restaurantes dedicados à culinária japonesa e as casas do Norte, os sotaques, os jornais escritos em idioma japonês dispostos nas bancas ou durante a leitura em locais públicos (chegamos a perceber tais publicações protegendo paredes durante a pintura, forrando chão, disponíveis nas grandes hortas urbanas), as histórias que ouvíamos nas andanças pela cidade, o contato direto com o povo e a observação dos costumes, os templos religiosos e terreiros, as escolas de samba e tantas outras marcas impressas na cultura e na paisagem urbana. Se a realidade confirma essa presença, os dados oficiais (pelo menos os que tivemos acesso nesta pesquisa) não lhes dão igual relevo.
Por conta dos festejos em homenagem ao centenário da migração japonesa no Brasil, a imprensa local divulgou em julho de 2015 a presença de aproximadamente dezesseis mil descendentes de japoneses em Suzano. Percebemos uma concentração dos japoneses na região do centro expandido e Sul da cidade, o que de alguma forma coincide com a atividade agrícola. Há empresas japonesas líderes em seus segmentos instaladas na cidade e os nomes próprios estão por toda parte. São clubes que mantêm as tradições japonesas como a tradicional Festa da Cerejeira que em 2015 realizou sua trigésima edição. A Academia Terazaki, conhecida como a primeira escola de judô na América, tem sua sede em Suzano. São três os templos religiosos com arquitetura oriental na cidade: Igreja Shingonshu Kongoji, Templo Budista Nambei Shigonshu Daigozan Jumyoji e Templo Honpa Hongwanji de Suzano. Certamente existem outros.
A intensidade das festas juninas e a grande Festa Nordestina em Suzano organizada pela Paróquia Santa Rita (na região Norte da cidade) e Prefeitura Municipal, com comidas típicas (tapioca, buchada de bode, baião de dois, bobó de camarão, sarapatel e caldo de mocotó), apresentações de música típica regional, demonstram o cultivo de tradições do Nordeste brasileiro na cidade. É muito comum observarmos nas feiras livres e nos cardápios dos restaurantes, dos mais sofisticados aos mais comuns, o encontro das gastronomias: yakissoba, tempurá, temaki, pastel, tapioca, caldos, espetinhos, massas dentre outros.
Feijoada é prato comum nas quartas e sábados nos restaurantes da cidade. O movimento negro atuante na cidade e região ganhou ainda mais expressão quando este setor, somando com outras forças políticas vinculadas às classes populares, acessou a Prefeitura pela porta da frente. Com o apoio da prefeitura, suas iniciativas ganharam relevo. As atividades em reverência à consciência negra, as Rodas de Todos os Santos, as caminhadas e cortejos pelas ruas da cidade com manifestações culturais e religiosas lhes deram mais visibilidade na cidade. O Pavilhão da Cultura Afro-brasileira Zumbi dos Palmares situado no interior do parque municipal Max Feffer apesar de recente, talvez seja uma das poucas marcas físicas, em termos de equipamentos públicos, na paisagem urbana que destacam a importância da comunidade negra na diversa composição étnica que Suzano abriga.
As palavras de origem indígenas marcam também alguns lugares da cidade, denominando equipamentos públicos, e fazendo referência à presença histórica do povo e da cultura indígena nesta região. Nos campos de Mirambawa, o antigo clube Mirambava, depois de incorporado ao patrimônio público municipal, foi transformado no Complexo Educacional Mirambava[1], a Represa Taiaçupeba e rio Taiaçupeba, a rodovia índio Tibiriça, o rio Tietê, o rio Una e etc. Um memorial foi construído no jardim Ikeda em homenagem aos índios enterrados naquela região, cujos indícios sugerem sepultamentos realizados entre 1906 e 1934[2]. As Conferências de Promoção da Igualdade Racial foram frequentes no período de 2005 a 2012, contando com a participação dos movimentos sociais e populares, e a presença dos representantes de grupos organizados em torno da preservação da memória indígena regional. Neste particular da composição da população suzanense é importante registrar a abundância de informações disponíveis sobre a presença da colônia japonesa; raras as informações organizadas e disponíveis sobre a presença nordestina; raríssimas sobre a presença negra e indígena bem como sua participação na construção histórica da cidade.

Fragmento da dissertação de mestrado de Ivan Rubens Dário Jr, intitulada "CORPO em movimento: marcas do Orçamento Participativo na cidade de Suzano/SP"



[1]Equipamento vinculado à Secretaria Municipal de Educação em 2008 como parte das ações voltadas à formação dos profissionais da rede municipal e atividades afins.
[2]Dados da Prefeitura de Suzano quando da construção do Memorial sobre o terreno em 2006.

Breve relato sobre a história do município de Suzano

Consta no sítio da Câmara Municipal de Suzano que o início da colonização da Capitania aconteceu logo após a fundação da Vila de São Vicente, em 1532. No planalto se estabeleceu o Colégio dos Jesuítas, na Vila de São Paulo, em 1554. Daí partindo para o interior da Capitania à procura de pedras ou metais preciosos, aprisionando índios para o trabalho escravo, alargando os domínios da Coroa Portuguesa. De São Paulo saíram incursões descendo ou subindo o rio Anhembi, depois denominado Rio Tietê. De acordo com registros do início do século XVII a sesmaria, cuja área que corresponde em grande parte ao território do atual município de Suzano, foi concedida a um senhor Rodrigues. A presença de ouro nas proximidades do rio Taiaçupeba despertou interesse e trouxe exploradores de regiões distantes.
Nos primeiros anos do século XVIII foi erguida a capela de Nossa Senhora da Piedade na localidade denominada Antonio Francisco Baruel, marca do início da formação histórica da Suzano atual. Em meados do século XIX eram treze as casas dedicadas ao comércio, algo considerável para a época. Nesta localidade foi criada uma escola de primeiras letras para meninos no dia 28 de março de 1870. Em 2007, Lei municipal fixou 28 de março como dia da educação.
A instalação da linha férrea na ligação do rio Guaió e rio Taiaçupeba, bem próximo à margem esquerda do Rio Tietê, criou novo vetor de crescimento urbano. Em 1875 uma pequena parada para a troca de lenha da locomotiva, a Parada Piedade (em respeito à Padroeira do Baruel), foi erguida no local. Antonio Marques Figueira, então contramestre da ferrovia, propôs o estabelecimento do núcleo urbano junto à parada de trem e, para tanto, contou com apoio de proprietários de terra naquela região[1]. O arruamento da Vila Concórdia foi aprovado em dezembro de 1890 com apoio dos maçons da capital da República recém-proclamada. Neste processo, a vila do Baruel perde expressão.
No início do século XX chegaram os primeiros imigrantes japoneses. As tradições da cultura japonesa compõem a paisagem urbana até os dias de hoje. Joaquim Augusto Suzano Brandão, engenheiro da ferrovia em Mogi das Cruzes, atendendo à solicitação do ainda povo Guaió ergue, em 1907, uma estação em alvenaria. No ano seguinte o local foi oficialmente denominado Suzano, tornando-se distrito em 1919 e conquistando autonomia de Mogi das Cruzes em 24 de dezembro de 1948 por meio de Lei Estadual. O primeiro mandato de vereadores e prefeito teve início no dia 2 de abril de 1949, data que marca o aniversário da cidade de Suzano. A Comarca de Suzano foi instalada em maio de 1962.
De acordo com o IBGE, em 1919 foi criado o distrito de Susano[2], subordinado ao município de Mogi das Cruzes. Em 1948, elevado à categoria de município, Suzano foi desmembrada do município de Mogi das Cruzes e constituído do distrito sede. Em 1981 foram criados os distritos de Boa Vista Paulista e Palmeiras de São Paulo, anexados ao município de Suzano. Logo depois, em 1983, foram constituídos os três distritos: Suzano, Boa Vista Paulista e Palmeiras de São Paulo. Em 1984 a grafia foi alterada para Susano. Em 1988 o município estava constituído em distrito de Susano, distrito Boa Vista Paulista e distrito de Palmeiras de São Paulo. Em 1992 grafou-se definitivamente Suzano. Três anos depois chegamos à configuração atual: distrito de Suzano, distrito Boa Vista Paulista, distrito Palmeiras de São Paulo.
            Cerca de 1.700 metros separam a estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a ponte sobre o rio Tietê na rua vereador João Batista Fitipaldi. Toda porção Norte a partir desses dois referenciais é popularmente conhecido como Rio Abaixo. Trens e rio fluindo lado a lado. Trens fluem nos dois sentidos, ida e volta. Rios fluem em um único sentido inexoravelmente. Rios vão das nascentes até a foz. Queremos muito rapidamente marcar dois apontamentos importantes para nosso estudo acerca do rio Tietê: trata-se de um rio que nasce na encosta continental da Serra do Mar, mais precisamente na cidade de Salesópolis distante cerca de 70 km de Suzano, vertendo para o interior. A segunda marcação refere-se ao nome, Tietê, de origem Tupi, resultado da junção de TI (água) e ETÉ (verdadeiro). Estamos falando de um rio de águas verdadeiras fluindo para o interior.
Suzano é um município da região metropolitana de São Paulo. É possível acessar Suzano utilizando transporte sobre trilhos (CPTM) para passageiros. O acesso rodoviário se faz principalmente pelas rodovias Ayrton Senna, Dutra, Carvalho Pinto, rodovia Índio Tibiriçá (ligação com rodovia Anchieta/Imigrantes), rodoanel e outros acessos. Suzano faz divisa com o ABC Paulista, está a cerca de 30 km do Aeroporto Internacional de Guarulhos e cerca de 100 km do Porto de Santos. O transporte ferroviário de carga transita pela linha MRS, com destaque para o Porto Seco da companhia Regional de Armazéns Gerais e Entrepostos Aduaneiros.
Ainda de acordo com o IBGE[3], o Município de Suzano possui 206,236 km2 de área territorial, está localizado na Região do Alto Tietê, entre a Zona Leste da Grande São Paulo e o Vale do Paraíba. O censo 2010 registrou 133.786 mulheres e 128.694 homens, totalizando 262.480 habitantes sendo 96,47% residente urbana. A distribuição da população no território está na ordem de 1.272,9 habitantes por km2.

Fragmento da dissertação de mestrado de Ivan Rubens Dário Jr, intitulada "CORPO em movimento: marcas do Orçamento Participativo na cidade de Suzano/SP"



[1]Guilherme Boucalt e Francisco Pinheiro Fróez, proprietários da fazenda Boa Vista e fazenda Revista. João Romariz, proprietário das terras conhecidas atualmente como Vila Amorim, além de autor do projeto de arruamento.
[2] A grafia de Suzano com ‘z’ e Susano com ‘s’ é proposital. Assim estão os registros que localizamos. Percebemos que houve variação, talvez por equívoco em algum momento, até que a grafia foi fixada definitivamente Suzano com ‘z’.
[3] Disponível em <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=355250>